Por Juh Marques
Jornalista, graduanda em educação física e maratonista
Como assim, que doideira é essa, vamos tentar entender o que de fato a pesquisa mostrou?
A ideia inicial da pesquisa surgiu assim que o distanciamento social foi decretado, e o objetivo era a de mostrar a relação entre bem estar emocional e a prática de atividade física, algo que a literatura já comprova, em situações de prática cotidiana mas não em um cenário de isolamento.
A pesquisa teve 592 respondentes que estavam em média a 15 dias de isolamento (lembra que foi tudo bem no começo e que ninguém esperava que fosse durar tanto), para um pesquisa científica este número é considerado expressivo, tira como exemplo aquelas pesquisas Datafolha que todo dia a gente vê na televisão, elas pegam 2 mil participantes em média e em cima do resultado geral aqueles dados.
Beleza, mas o que realmente encontramos e foi tão surpreendente, até para nós pesquisadores? (Sim, fui uma das autoras da pesquisadoras) Em resumo foi isso:
- Aquelas pessoas que não praticavam atividade física ANTES da quarentena e que iniciaram esta rotina DURANTE a quarentena não apresentaram índices positivos de bem estar emocional, o que quer dizer que não se sentiam tão bem assim com isso. Por quê? Nossa hipótese é a de que estas pessoas poderiam estar se sentindo “pressionadas” a ter que utilizar seu tempo com exercícios físicos, e nem sempre estariam recebendo a orientação correta. Pensa aí, alguém que não treinava, sair de uma hora para outra fazendo as lives de treino que via pela frente, seguindo treino do YouTube, que a gente sabe que não são treinos individualizados, e sem alguém para corrigir os movimentos ou sem controlar a intensidade. A probabilidade de algo errado ou algum mal estar emocional posterior acontecer (especialmente para quem nunca fez) é grande, concordam? Imagina a sensação de não se sentir capaz de finalizar uma rodada de exercícios? Ou de ficar muito incomodada fisicamente no dia seguinte e não gostar? Mas lembrem que estamos falando do EMOCIONAL, e que todos esses fatores e outros podem ter influenciado nesse resultado.
- Falando de YouTube e lives, outro dado relevante foi que as pessoas aumentaram de expressivamente a procura por recursos midiáticos para auxiliar no seu treino, mas que não significa que eram acompanhadas por um profissional de educação física, por que gente sabe que tem de sobra vídeos feitos por pessoas sem ser da área da educação física ou mesmo sem ter a carteira do Conselho Regional de Educação Física, que comprova que são graduados. Essa exposição de treinos e muitas pessoas postando como estavam enfrentando o isolamento pode também ter aumentado a pressão para incluir ou aumentar a prática e parece sempre que a “grama do vizinho é mais bonita”, essas comparações podem, também, aumentar o mal estar. Lembrem-se a coleta foi feita no início do isolamento.
- Aquelas pessoas que já praticavam atividade física ANTES e que CONTINUARAM praticando mais de 2x na semana apresentaram bons índices de bem estar emocional. Nossa hipótese é de como já era algo comum da rotina dessas pessoas o exercício continuou agindo da mesma forma positiva como agia num contexto normal. Além disso, aquelas pessoas que incluíram uma prática leve, também demonstraram aumento do bem estar subjetivo, ou seja, a satisfação consigo mesmo.
Moral da história: praticar atividade física na quarentena FAZ BEM, desde que não seja necessária uma mudança muito drástica na sua atitude e hábitos anteriores. A PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA para aquelas pessoas que NÃO praticavam antes e resolveram iniciar durante a quarentena e SEM A DEVIDA ORIENTAÇÃO de um profissional não era algo positivo EMOCIONALMENTE. Na realidade se pararmos para pensar, a pesquisa na realidade RESSALTA a IMPORTÂNCIA do papel do profissional de educação física na rotina de treinos e DO TREINO SER PERSONALIZADO PARA SUA REALIDADE E HÁBITOS e isso sim, faz total sentido. Espero que todos tenham entendido, mas mesmo assim recomendo a leitura da pesquisa na íntegra.
Essa foi uma pesquisa realizada em parceria entre a UFC, UERJ e PUC-RJ.
Autores: Juliana Marques de Abreu (IEFES/UFC), Roberta Andrade de Souza (IEFES/UFC), Profa. Dra. Lívia Viana (IEFES/UFC), Prof. Dr. Alberto Filgueiras (UERJ) e Prof. Dr. J. Landeira-Fernandez (PUC-RJ).
Link: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.08.20125575v2